Numa época de manifs sectárias e interesseiras, vale a pena lembrar a génese da revista Homens Livres. Corria o ano de 1923 e, diante da grave crise nacional, as principais figuras do Integralismo Lusitano e da Seara Nova decidiram fundar uma publicação conjunta.
Como mar que unisse e já não separasse, o projecto juntou Antonio Sérgio e António Sardinha, Raul Proença e Pequito Rebelo, Jaime Cortesão e Afonso Lopes Vieira: enfim, republicanos e monárquicos, adeptos da laicização da sociedade e fervorosos católicos, democratas e antidemocratas, revolucionários e contra-revolucionários. No subtítulo todos se afirmaram "livres da finança e dos partidos".
António Sérgio, na nota de abertura, justifica a união de todos aqueles homens de tão diferentes e opostos quadrantes, escrevendo que "a grande linha divisória, nestes nossos dias, não é a que separa as 'direitas' das 'esquerdas'; é, sim, a que distingue (...) os homens do século XX dos homens do século XIX, os vivos dos mortos".
E Sardinha, com nobreza de carácter, adianta: "É lógica, portanto, a nossa aproximação, e com honra o digo, porque, descontadas as divergências, não de pessoas, mas de finalidade, António Sérgio e os seus companheiros marcam na podridão ambiente uma notável reserva de saúde e bravura moral".
Nos momentos de desgraça colectiva, sobretudo nestes, o essencial deve prevalecer sobre o acessório. E o essencial é o que nos une, a memória, o desejo de liberdade, a comunidade de destino. Há 90 anos, integralistas e seareiros deram ao país dividido um exemplo notável de resistência e conciliação.
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