DEPUTADOS

Ignoro se a função do deputado é sagrada, como sustenta Assunção Esteves. Mas há dois tipos de parlamentares que há muito acolchetei na minha admiração íntima: o contemplativo, que assiste aos trabalhos sempre nas últimas filas, sem abrir a boca; e o narcoléptico, que adormece no plenário. Ambos inofensivos e fofinhos, representam o povo na sua placidez proverbial. Perigosos e arteiros são os que trabalham. Quer nas sessões, quer nas comissões da especialidade, incomoda-me a imagem de um deputado activo. Nesse estado de excitação, tende a produzir propostas, fazer discursos, redigir leis. E todos nós lhe sofremos as consequências.
Mesmo que não sejam sagrados, os contemplativos e os narcolépticos são os meus ídolos parlamentares. Que ninguém os incomode, se faz favor. Durmam, fofinhos, durmam.

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