NORMA E NORMAN


Faz hoje seis anos que morreu Norman Mailer. Nunca percebi o menosprezo a que foi votado por alguns críticos. Certo que o homem era antipático e um tanto doidivanas. Casou-se cinco vezes, teve nove filhos, bebeu álcool e consumiu drogas à farta e ainda esfaqueou uma das ex-mulheres numa discussão. Tinha obsessões despropositadas e maníacas. Mas esse era o maluquinho fichado das biografias sensacionalistas. O Norman literário revela-se mais importante.
Boa parte da literatura norte-americana não é bem literatura, mas jornalismo vendido em livros. Norman Mailer insere-se na tendência, mas pelo menos escreve bom jornalismo, dentro da chamada não-ficção criativa, o new journalism, em que se distinguiram igualmente Truman Capote e Tom Wolfe. E, atrevo-me a dizê-lo, o próprio David Foster Wallace, não o dos contos e romances, mas o dos ensaios sobre David Lynch e sobre a língua inglesa, por exemplo.  
É neste quadro que Mailer merece ser estudado. A sua biografia de Marilyn Monroe, publicada em 1973, inculpa o FBI e a CIA na morte da actriz, devido ao suposto romance com o senador Robert Kennedy. A tese pode parecer arrevesada, mas se pensarmos que a CIA, por essa altura, elaborou planos para matar Patrice Lumumba, do Congo, Fidel Castro, de Cuba, Abdul Kassem, do Iraque, Rafael Trujillo, da República Dominicana, Ngo Dinh, do Vietname, e René Schneider, do Chile, não custa acreditar que também tivesse despachado uma loura frágil de 36 anos, encafuada a barbitúricos. Eu, nestas matérias, já de nada pasmo, tudo acho possível  e quanto mais absurdo, mais de acreditar.
Em O Fantasma de Harlot, já Mailer se tinha entranhado nos labirintos da CIA, uma teia de ambições, ardis, crimes e violência. Foi, no mínimo, um bom jornalista que escreveu bons livros. Merece ser lido.

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