O escritor francês Gabriel
Matzneff, de 76 anos, ganhou ontem o prestigiado Prémio Renaudot, na categoria
de ensaio, com o livro Séraphin, c'est la fin! — que reúne artigos e crónicas que
escreveu em várias publicações de 1964 a 2012.
Amigo de Hergé e Cioran, conviveu também com o grande Henry de Montherlant, de quem espalhou as cinzas em 1972. Defendeu à outrance o mérito do Les Deux Étendards, de Lucien Rebatet, afastado das estantes por motivos pouco literários. Meio anarquista, dá-se bem com Alain de Benoist e colabora na revista Éléments.
Os editores portugueses não o conhecem, mas Matzneff é um dos mais originais escritores da actualidade, com uma obra própria de cunho exclusivo, bem diferente daqueles recidivistas marcados da pirataria literária.
Amigo de Hergé e Cioran, conviveu também com o grande Henry de Montherlant, de quem espalhou as cinzas em 1972. Defendeu à outrance o mérito do Les Deux Étendards, de Lucien Rebatet, afastado das estantes por motivos pouco literários. Meio anarquista, dá-se bem com Alain de Benoist e colabora na revista Éléments.
Os editores portugueses não o conhecem, mas Matzneff é um dos mais originais escritores da actualidade, com uma obra própria de cunho exclusivo, bem diferente daqueles recidivistas marcados da pirataria literária.
Mas a atribuição do
prémio pode gerar polémica. É da sabença geral: no melhor pano cai a nódoa. Matzneff
é um pedófilo notório, como se topa em obras como Les Moins de Seize Ans ou Mes
Amours Décomposés — e ainda nas páginas
dos seus diários, que narram aventuras de turismo sexual nas Filipinas, com
jovens de 14 e 15 anos. Não perfilo na ala dos moralistas, criaturas sempre exigentes
no cumprimento da virtude alheia, mas confesso não vou tão longe na
liberalidade. Matzneff enfrenta o tema e diz que é precioso distinguir a
violação de uma criança de 8 anos, que ele condena, do acto consentido de um
jovem de 15. Haveria que distinguir entre pedofilia e efebofilia. Creio que,
nestes ou noutros termos, a questão vai ser uma causa fracturante a ser
debatida proximamente. A obra do francês serve de introdução ao tema.
A mancha não apeou André
Gide ou Oscar Wilde do panteão da literatura. Nabokov continua a vender que nem
ginjas. E a Matzneff é de conceder pelo menos o benefício da dúvida literária. Provocador,
iconoclasta, grande estilista, talvez o maior entre os polígrafos franceses
vivos, não merece que a obra seja empanada pelos vícios privados. Cuspir-lhe-ão
decerto os epítetos infamantes, mas
nisto da literatura os críticos ladram e o génio passa.
Justamente o último número do Rivarol fala em "la pédomanie recompensée". Com semelhante gente, parida nas liberalidades de 68, não pode haver tolerância, Bruno. E premiá-la é, obviamente, trazer por arrasto - e deliberadamente - a questão ideológic;, não podemos ser ingénuos ao ponto de pensar que apenas o génio literário está a ser premiado. Ou Céline poderia, 80 anos depois, receber o Renaudot?
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