OS IDIOTAS (III)

Em todo o caso, o Saavedra [o presidente da Câmara] usava medalhas. Usava o 'pin' com a bandeira nacional e usava a menos discreta medalha de mérito que um dia outorgara a si próprio, por interposta Assembleia Municipal. Não havia muito pudor naqueles paços do município. Havia salamaleques, protocolo, circuito interno de TV, serviços de espionagem, bufos, mas não havia pudor. Havia um gabinete de toponímia de fraca produtividade: ainda só atribuíra o nome do Saavedra a uma avenida, duas ruas, uma praça, um gimnodesportivo e um viaduto. Havia um serviço de segurança que competia com o do Vaticano, em números e discrição. Se andassem de ceroulas coloridas e capacete emplumado, os guarda-costas do presidente não dariam mais nas vistas.   
 
[Rui Ângelo Araújo, Os Idiotas, pp. 163-164]

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