Em todo o caso, o Saavedra [o presidente da Câmara] usava
medalhas. Usava o 'pin' com a bandeira nacional e usava a menos discreta
medalha de mérito que um dia outorgara a si próprio, por interposta Assembleia
Municipal. Não havia muito pudor naqueles paços do município. Havia salamaleques,
protocolo, circuito interno de TV, serviços de espionagem, bufos, mas não havia
pudor. Havia um gabinete de toponímia de fraca produtividade: ainda só
atribuíra o nome do Saavedra a uma avenida, duas ruas, uma praça, um
gimnodesportivo e um viaduto. Havia um serviço de segurança que competia com o
do Vaticano, em números e discrição. Se andassem de ceroulas coloridas e
capacete emplumado, os guarda-costas do presidente não dariam mais nas vistas.
[Rui Ângelo Araújo, Os Idiotas, pp. 163-164]
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