Duas
actividades enfeiam o Mónaco: a Fórmula 1 e o futebol. Teimo que o principado
não tem vocação para corridas de automóveis e jogos de bola. E das vezes em que
lá estive, essa certeza mais se me aferrou.
Largaram
esta época o Leonardo Jardim e o Bernardo Silva para aquela nesga de terra na
ourela marítima da França — e vão somando derrota por derrota. Aquilo
nem espaço tem para um centro de estágios. Da república genebrina dizia
Voltaire que, ao sacudir a cabeleira empoada, a salpicava toda; também no
Mónaco uma lebre em poucos saltos faria a travessia das varandas de Monte
Carlo, sobranceiras ao mar, a Beausoleil, o prolongamento francês do território.
Recorta-se
ademais em ferradura a costa monegasca. Outra razão que me impele a dizer que
devia aquela gente dedicar-se antes ao hipismo, modalidade olímpica e
aristocrática, que emparelha bem com iates e casinos.
Faz
falta ao principado um soberano como Alberto I, que reinou de 1889 a 1922. Um
príncipe à antiga que governa com aprazimento e felicidade dos seus súbditos à
laia dos tempos patriarcais. Foi um grande amigo de Portugal — e partilhava
com o nosso D. Carlos a paixão do mar e das pesquisas oceanográficas.
Pôs
a sua espada de jovem oficial ao serviço da França, na desastrada guerra
franco-prussiana de 1870. Era culto, inteligente e escrevia bem. A arma do
guerreiro e a toga do letrado andaram-lhe sobre os ombros sem cederem uma à
outra. Tentou à outrance evitar a I Guerra Mundial, um desastre para o Velho
Continente. Assumiu-se, enfim, europeu de mão cheia.
Está
agora o território entregue ao rapazinho homónimo das revistas cor-de-rosa. E o
clube, pior ainda: foi comprado por um mafioso russo. Meus caros Leonardo
Jardim e Bernardo Silva: o aeroporto mais próximo fica em Nice.
Sem comentários :
Enviar um comentário