CEM ANOS DE VINICIUS

Faz hoje cem anos que nasceu Vinicius de Moraes. Viciado em boémia e mulheres, aferrou-se à farra e casou-se nove vezes. (Os poetas nunca aprendem à primeira). Foi também um grande apreciador de whisky, o seu melhor amigo — uma espécie de cãozinho engarrafado.
A parceria que firmou com Tom Jobim constituiu, no seu registo próprio, uma das grandes duplas criadoras da música contemporânea. Eu, que nem sou dado à bossa nova, reconheço no letrista de Chega de Saudade ou Pela Luz dos Olhos Teus um compositor de excepção. A Garota de Ipanema foi cantada em várias línguas e por vários intérpretes, de Frank Sinatra a Amy Winehouse, passando por Ella Fitzgerald (que transformou a garota em garoto: The Boy from Ipanema).
Os jovens poetas d'aquém e d'além-mar só teriam a lucrar se frequentassem Vinicius, mesmo que adiram a outras correntes da expressão literária. Ele é o poeta do ritmo e do sentido plástico da palavra. Os seus sonetos denotam o influxo de Camões. Como dizia Manuel Bandeira, há nele o fôlego dos românticos e a liberdade dos modernos. Devido a combinações fónicas e amplos recursos estilísticos, como aliterações e iterações, a poesia de Vinicius, sobre ser cantabile, saía já do papel em notas musicais. Era logo registada como música na maternidade das letras.
 Por isso, foi único.

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