DOIS COMBATENTES


Avanço sobre ti, dispo-te a farda,
apago a luz do quarto à revelia
e oiço o som agreste da espingarda
que pauta desta luta o dia-a-dia.

Gememos frente a frente o prazer mater
de sangue, sal, suor e sonhos sãos;
usas de dia o riso, por carácter,
e à noite, por vestido, as minhas mãos.

Estreito-te no estreito da cintura,
teu corpo marcial lanço por terra;
estudo-te perfil, pele e pintura,
e apronto uma estratégia para a guerra.

Abafo com a minha a tua boca
e, numa acção heróica de soldado,
invisto sobre ti, deixo-te louca,
a modos de mancebo amancebado.

Murmuras evasivas entre dentes,
eu nego um armistício que te valha:
somos rivais, amor, dois combatentes,
e a cama é o nosso campo de batalha.

2 comentários :

  1. "usas de dia o riso, por carácter,
    e à noite, por vestido, as minhas mãos."

    Muito bem conseguidos, estes versos.

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