Parece que foi há 200 anos. Os cafés bem no centro da cidade, largos e luminosos, com mesas de tampo de mármore. Ainda não pegara a moda do mobiliário de plástico oferecido pelas marcas de bebidas, a troco de fidelização. Os empregados solenes, calças pretas, colete preto, camisa branca, a manejar bandejas numa perícia de décadas.
Os cafés e os clientes receberam ordem de despejo, ala que se faz tarde rumo ao progresso: os estabelecimentos banquerizados, alguns convertidos em supermercados, outros demolidos para construção de apartamentos. Desapareceu com eles um estilo de viver e conviver, de tertuliar e de passar o tempo: as conversas fúteis, os estudantes, os namorados, o engraxador, o pedinte, os malucos, sempre os malucos — e aquelas velhas sabidas que montavam na cadeira posto avançado de observação e presumiam a vida íntima da cidade. Era um zoo humano que servia torradas e galões, mais do que bichos.
Nos dias de invernia, quando a chuva zimbrava às varreiradas sobre os passeios alagados, entravam ligeiros os clientes, como a acabar uma corrida. Depois de uma esfregadela de sapatos no tapete, enfiavam no bengaleiro o guarda-chuva, que ali ficava a chorar para o chão.
Esses "cafés da minha preguiça", como dizia o Mário de Sá-Carneiro, é que eram as verdadeiras redes sociais, ainda o doido do Zuckerberg não tinha nascido. Parece que foi há 200 anos.
Sim, parece que foi há duzentos anos. Olhe, as suas palavras sobre os cafés desaparecidos quase me fazem chorar de uma saudade infinita desses tempos. Só quem os viveu poderá recordar a alegria e bem-estar interior que aquela hora ou duas passadas num café/pastelaria a lanchar na respectiva esplanada ou no seu interior e a confraternizar com colegas, amigas ou primas (mas isto só aos fins de semana, é claro, os outros dias eram obrigatòriamente dedicados ao estudo) e uma vez por outra com Senhoras mais velhas - Mãe, Avó, tias, etc. As vezes que lanchámos ou almoçámos com prazer e em perfeita harmonia, no Café Império, na Pastelaria Mexicana, no Café Londres, na Pastelaria Cinderela e até no Restaurante Vává e no Luanda, não têm conto. Tempos que já lá vão e que, por força da traição e maldade de um punhado de bandidos, não voltam nunca mais.
ResponderEliminarA tristeza que nos invade o coração ao relembrar esses tempos de verdadeira paz e absoluta segurança, que por intuída não necessitava ser exteriorizada, é inexplicável. Hoje faltam palavras para as poder descrever na sua exacta dimensão.
Depois..., depois veio o progresso e a modernidade e, como é prática corrente do regime podre que o/a instituiu, deu cabo de tudo num estalar de dedos. Seguindo o deplorável estilo de vida dos norte-americanos, de que os democratas seus representantes dilectos e directos no terreno são os seus principais arautos, viraram do avesso o nosso estilo de vida que tanto nos comprazia. Acabaram com todos os hábitos saudáveis que faziam os portugueses felizes. Fizeram desaparecer num ápice Cinemas, Teatros, cafés, pastelarias, etc. e até jornais, estes sim de referência, tudo o que fizesse lembrar o 'antigamente' teria de ser riscado do mapa, tudo isso era proibido. Começa então com a máxima rapidez e não menor precisão, a desconstrução do que social e moralmente de mais são, honesto e bom existia na sociedade portuguesa. Com processos subtís mas diabólicos, que fariam inveja aos mais perigosos mafiosos sicilianos, iniciou-se, conforme a agenda, a 'reconstrução', agora sim, de um Portugal 'livre, desenvolvido e democrático'.
E é assim que um povo, que sempre foi alegre, trabalhador, honesto, respeitador e pacífico, foi transformado num povo desconfiado de tudo e de todos, inseguro e temente ao futuro e um país, cujos governantes sempre se haviam pautado pela verticalidade, honradez e dignidade, foi preenchido em menos de um fósforo por um número incontável de ladrões, corruptos, assassinos, drogados, pedófilos e um extenso etc., estando ainda incluída neste lote criminoso uma não menor quantidade de políticos no activo e ex-políticos, bem como e em perfeita conivência com todos estes, um punhado nada despiciendo de personalidades importantes da sociedade civil.
O resultado desta mudança drástica e traidora de um regime sério, honesto e patriota, para um outro ultra-progressista, ultra-moderno e ultra-desenvolvido foi a transfiguração da noite para o dia numa mole de gente amorfa, triste, deprimida e profundamente infeliz; foi a anulação completa da personalidade em formação de um número infindável de jovens mais sensíveis e influenciáveis transformando-os numa geração deprimida e sem norte, muita da qual dependente de drogas; e ainda de outros tantos portugueses marginalizados pelo próprio sistema e seguindo à risca o exemplo da máfia política, ter-se virado para o roubo e para o crime, adoptando-os como um modo de vida perfeitamente 'normal'.
O terror e a insegurança que pairam diàriamente sobre os ombros dos portugueses e a infelicidade daí resultante, são o resultado da implementação de um regime maçónico e apátrida que fez imensamente mal a Portugal e continua a fazê-lo impunemente. O mesmo terror, insegurança e infelicidade a somar às guerras artificialmente semeadas e às catástrofes aéreas, marítimas e terrestres diária e malìgnamente provocadas por todo o Globo. E agora já não só nas democracias, onde ele há décadas senão centúrias foi sempre rei e senhor.
O comentário acima é meu, a falta de assinar o nome é consequência de confiar que este apareça a encimar aquele:)
ResponderEliminarMaria
"...terem-se virado para o roubo e para o crime..." e não 'ter-se'.
ResponderEliminarMaria
Um post muito bonito e um comentário SIMPLESMENTE NOTÁVEL! Parabéns Maria!
ResponderEliminarMuito agradecida por tão bonitas palavras, PSC.
ResponderEliminar-------------
Agora, para desanuviar um pouco o ambiente perante as mágoas que me atormentam diàriamente (e eu, que sou uma pessoa optimista por natureza..., que faria se o não fosse) e que não as consigo afastar do espírito por mais que tente quando antevejo o destino trágico que nos aguarda como país e povo, permito-me deixar uma nota mais alegre por uma questão de vaidade inocente, sem com isso me vangloriar demasiado e sobretudo sem falsa modéstia.
A imagem de Audrey Hepburn reproduzida, fez-me lembrar a minha própria pessoa lá pelos meus 17/20 anos... Mas, é curioso, pelo contrário, um dos meus irmãos achava-me parecida por essa mesma altura com Kim Novak (isto, bem entendido, quando ela era nova e gira e não mais tarde quando se tornou horrível, acrescento eu! Parte destas pequeninas e inofensivas confidências já as havia feito algures no tempo ao estimado Paulo Cunha Porto). Uma outra opinião uns anos mais tarde e ainda deste mesmo irmão (o único deles todos verdadeiramente cinéfilo, tal como eu e ambos influenciados nesta paixão pela nossa Mãe, a maior cinéfila de toda a família:), achava-me muito parecida com a ex-modelo Karen Mulder(!) que ainda o é já que desfila de vez enquando e não há muitos anos fê-lo numa passagem de modelos no Porto.
Aqui têm esta gracinha sem importância (que, caso haja alguma curiosidade nisso, dá para obterem uma vaga ideia da minha fisionomia, se é que tal possui sequer interesse ou valia) que me empresta alguma, ainda que passageira, alegria. A mesma que me preenche a alma durante o tempo que levo a ler neste espaço blogosférico os inteligentes escritos e comovedores poemas - tanto quanto o são alguns outros espaços, poucos, mais - saídos da brilhante pena/teclas do seu ilustre autor.
Maria