A ESCOLINHA

Corre por aí um debate morno sobre a escolaridade obrigatória. Como de costume, ninguém tem razão. À uma, escapa aos proponentes que a caixa de velocidades do progresso não admite marcha-atrás. Não entendem, à outra, os seus opositores que isso de ser obrigatório o exercício da liberdade revela uma contradição nos termos.   
Desde que se inculcou a ideia de que pela Educação (com maiúscula, como eles gostam) é que vamos, o caminho ficou definido. A Educação (lá está, com E grande) transformou-se em desígnio nacional, meta do regime, a paixão de Guterres e dos homens sábios.  Ninguém quer discutir a velha questão de saber se aprendemos porque somos ricos e livres ou se, pelo contrário, somos ricos e livres por termos aprendido. Adoptámos, quase sem exame, a tese de que a base do desenvolvimento é a escolinha, a Educação (com maiúscula, s.f.f.), a escolaridade obrigatória, ontem 9 anos, hoje 12, amanhã talvez 15, a seguir 20, depois 30 ou 40, que isto do progresso nunca pára e não queremos ficar aquém da Alemanha e da França, isso nunca.   
Sabemos, desde Aristóteles, que a sabedoria não é condição da liberdade, mas consequência. O homem não se liberta pela sabedoria: procura a sabedoria porque é livre. Esta não é promessa, mas exercício de liberdade. A sabedoria é, pois, o horizonte mais nobre de expressão da liberdade humana.
Enfim, o contrário exacto da linha vigente. Quem quiser debater o assunto com profundidade filosófica e rigor metafísico, pode começar por aqui. Quem quiser apenas ganhar votos, ter o nome limpo nas redes sociais e ser considerado inteligente, deve defender a escolinha obrigatória, a Educação (com maiúscula, sempre com maiúscula), o ensino cívico e dos "valores da cidadania". O progresso, meus amigos, é um autocarro sem travões leva tudo à frente.

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