Todo o estudante que escreve sobre carrascos e torturadores deve ler umas dez vezes aquele capítulo do verdugo nostálgico, que o génio de Papini conta no seu livro Gog. Um pobre homem, Tiapa, que
durante quarenta anos a fio exercera de verdugo para acabar miseravelmente no desemprego e talvez sem direitos sociais. O seu adágio favorito era: "As costas foram feitas para pancadas e
as árvores para forcas".
Diz ele, profundo: "A Europa perdeu o segredo de matar. A adopção dos processos mecânicos é um sintoma da decadência da arte. A guilhotina é rápida, mas muito geométrica e impessoal. O fuzilamento é uma vitória do supérfluo: um esbanjamento inútil (...) Os Estados Unidos, com a cadeira eléctrica, caíram no máximo da abjecção. A electricidade, a força mais espiritual da Natureza, a que dá luz e asas, aviltada a ponto de liquidar assassinos".
Tiapa, sempre compreensivo, no fundo um coração mole, admitia o garrote e o empalamento, métodos apesar de tudo aceitáveis, bem que pálidos em comparação com os tradicionais. O fogo era para ele um dos mais perfeitos instrumentos de justiça: "Tem qualquer coisa de clássico, de poético, de grandioso, que apraz aos olhos e à fantasia". O machado também apresenta os seus méritos. E lamenta-se: "Não compreendo porque há já tanto tempo se não usa a crucificação: era um suplício longo, doloroso e, sobretudo, estético. Hoje, a estética é tida em bem escassa conta".
O pobre carrasco, assim desprezado, despedido, arrumado para um canto, sem que uma manif lhe velasse os direitos adquiridos, sente-se mal, indisposto com o mundo: "Não compreendo o preconceito dos homens civilizados contra o verdugo".
Acaba por desabafar: "Fazem-me falta as cabeças, como o barro e as palhetas ao escultor paralítico; sofro como um violinista cujas mãos tivessem sido decepadas. O meu mal-estar é a prova do amor inextinguível que sempre senti pela arte. Mas os puros artistas sempre foram mal compreendidos e caluniados". E uma lágrima, uma lágrima verdadeira, rolou pela primeira vez do seu olho direito.
Diz ele, profundo: "A Europa perdeu o segredo de matar. A adopção dos processos mecânicos é um sintoma da decadência da arte. A guilhotina é rápida, mas muito geométrica e impessoal. O fuzilamento é uma vitória do supérfluo: um esbanjamento inútil (...) Os Estados Unidos, com a cadeira eléctrica, caíram no máximo da abjecção. A electricidade, a força mais espiritual da Natureza, a que dá luz e asas, aviltada a ponto de liquidar assassinos".
Tiapa, sempre compreensivo, no fundo um coração mole, admitia o garrote e o empalamento, métodos apesar de tudo aceitáveis, bem que pálidos em comparação com os tradicionais. O fogo era para ele um dos mais perfeitos instrumentos de justiça: "Tem qualquer coisa de clássico, de poético, de grandioso, que apraz aos olhos e à fantasia". O machado também apresenta os seus méritos. E lamenta-se: "Não compreendo porque há já tanto tempo se não usa a crucificação: era um suplício longo, doloroso e, sobretudo, estético. Hoje, a estética é tida em bem escassa conta".
O pobre carrasco, assim desprezado, despedido, arrumado para um canto, sem que uma manif lhe velasse os direitos adquiridos, sente-se mal, indisposto com o mundo: "Não compreendo o preconceito dos homens civilizados contra o verdugo".
Acaba por desabafar: "Fazem-me falta as cabeças, como o barro e as palhetas ao escultor paralítico; sofro como um violinista cujas mãos tivessem sido decepadas. O meu mal-estar é a prova do amor inextinguível que sempre senti pela arte. Mas os puros artistas sempre foram mal compreendidos e caluniados". E uma lágrima, uma lágrima verdadeira, rolou pela primeira vez do seu olho direito.
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