O CONSERVADOR

O conservador lembra comida de conserva, enlatada; e intoxica. O conservador possui uma boa escrita, contabiliza; muito previdente, não se arrisca a perder nem se vota a sonhos e grandes empreendimentos de alma.
O conservador pensa na arca e na barriga. O conservador, como o porco, defende a gamela e, se tem ambições, é a de uma gamela maior. Burocrata, administrador, tecnocrata, aí o vemos sempre sensato. Detesta qualquer espécie de loucura. Teme, despreza, censura e combate os apaixonados, os idealistas, os desmedidos.
O conservador quer a tranquilidade e a segurança — e para isso venderá a alma ao diabo e acabará enterrando na adega quantos ideais houver. Não admite é sobressaltos, violências, extremismos. Mas se a coisa vier docemente, empantufada, com flores e por aliciantes arroios — com boas maneiras, sim! —, já o caso muda de figura. O conservador fica a escutar violinos, ao canto da lareira, a ver televisão ou ronronando, tolera, fecha os olhos, abranda, deglute o bolo às migalhas e acaba por se habituar. Sobressaltos, violências, extremismos é que não!

[Goulart Nogueira, adaptado por B.O.S.]

Sem comentários :

Enviar um comentário