OS BUFOS

O bobo medieval bracejou em tanta cópia que foi preciso dar nome às espécies. Surgiram o jogral, o truão, o arlequim, o palhaço e, por derradeiro, o humorista um sujeito que, dotado de talento motejador, faz rir o público e é aplaudido à gargalhada. Tais qualidades não o distinguem hoje do comum dos políticos e é decerto por isso que muito aspirante a humorista, para ganhar a vida, preferiu a política ao chiste.
Bruno Nogueira e Ricardo Araújo Pereira são exemplo dos que optaram pela política. A escolha é legítima mas deve prevenir-se o consumidor para que não compre gato por lebre. Os dois rapazes alapardaram-se em rubricas ditas de humor para esguichar o fel da ideologia. A diatribe do granjola de barba intonsa contra Margarida Rebelo Pinto é uma canalhice sem nome. Nem sequer humor fraquinho, mas apenas chuva de impropérios, cuspidos de enfiada e com voz irritante e desnatural. Ao denunciar a opinião da senhora, num burlesco de fundo ideológico, alcança um dos significados de bobo: o de bufo ou bufão. Raio de país em que os humoristas se dedicam à política e os políticos é que nos fazem rir.        
Já Ricardo Araújo Pereira e os outros gatos andam calados de humor porque se lhes deve ter esgotado o saco de piadas roubadas na estranja. Falsários geniais da piada postiça, montaram tenda de contrabando nos órgãos de comunicação. Dos genéricos aos textos, tudo lhes chega à socapa lá de fora. As piadas que aviam ao público português chegam já ressessas, em segunda mão, impróprias para consumo, entesouradas à sorrelfa do repertório alheio.
Humoristas oficiais do regime, são também eles um dos rostos da crise. Se tivessem consciência capaz de rebates, há muito teriam largado o ofício e, envergonhados, para se desemburrarem nas noções elementares do mister, deitavam-se a ver os vídeos do melhor humor contemporâneo, dos Monty Python ao Seinfeld e às criações de Ricky Gervais. E estudariam também a história do humor luso, que vem de Mestre Gil e Tomás de Noronha, visita o Eça e o André Brun e, por este andar, não há-de passar por eles. As próprias anotações de Leite de Vasconcelos sobre a matéria na sua Etnografia Portuguesa ainda agora merecem ser lidas.  
Um humorista travestido de político é sempre um falhado. Se é político e plagiário, pior. De toda a fancaria que grava hão-de ficar apenas os perdigotos gosmados pelo ódio ideológico. Dá vontade de chorar, não de rir. 

3 comentários :

  1. Ui, Ui!, esta bateu forte e feio:) 100% d'acordo com o que escreveu quanto a esses humoristas, mas e o que tem a dizer do principal pseudo-humorista que falta nesse rol? Herman José, pois claro. Um homem que já teve pilhas de graça, que até nos fazia chorar a rir, desde há uns anos tem vindo a tornar-se uma verdadeira desgraça, dá pena ver tanta falta de originalidade e talento. Além da vulgaridade das piadas, sem piada nenhuma, da falta de decoro, de educação e de ética - absolutamente exigível a qualquer apresentador que se preze - a roçar o ordinário quase todas elas, denotam uma total falta de respeito para com os telespectadores. Mas pelos vistos ele borrifa-se para o facto.
    Na realidade hoje em dia torna-se um suplício assistir aos programas deste homem. Uma lástima. Escapam alguns convidados, mas não chegam para segurar o programa. O mistério, que vistas bem as coisas não revela mistério algum, está no motivo pelo qual as televisões ainda o contratam (se deixa um canal, salta para outro e assim sucessivamente, conseguindo manter-se sempre na crista da onda). O remédio para tanta boçalidade? É mudar de canal e assunto resolvido.

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  2. Apesar de tudo, Maria, o Herman tem mais talento do que os outros todos juntos. Faltam-lhe ideias, textos, repete os vícios consabidos, mas o engenho anda por lá.
    O que eu não consigo interpretar é o estranho fenómeno da multiplicação de humoristas e cantoras de fado.

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  3. É isso, um flagelo, o dos humoristas, fadistas e escritores. E ainda por cima com estatuto de eruditos. Veja-se que a Tinta da China escolheu o Araújo Pereira para dirigir uma colecção de textos satírico-humorísticos. Mas creio que não saíram mais do que dois ou três volumes, porque a bagagem do homem deve ter-se esgotado, o que é de estranhar. De um portento como ele e colegas, que escrevem para tudo o que é sítio, seria de esperar muito mais. Saúde!

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