Marguerite Yourcenar a ler em casa, em 1986, um ano antes da sua morte.
A secção Livros & Mulheres costuma reincidir por gosto e vocação em mulheres mais novas e menos enrugadas. Abre hoje excepção para a escritora belga de expressão francesa, que morreu neste dia há 26 anos.
Na sua obra, avulta o livro Memórias de Adriano, um
romance histórico magnífico, quer como documento, quer como monumento de
arte literária.
A Obra ao Negro oferece-nos um espantoso
fresco da Europa do século XVI e O Golpe de Misericórdia conta-nos de forma
magistral um singularíssimo triângulo psicológico, constituído por Eric, Sophie
e Conrad, com um desfecho cem por cento patético e nobilitantemente trágico,
na melhor linha da nobreza intrínseca daquelas personagens.
Yourcenar revelou-se também uma ensaísta erudita e profunda. Vale a pena ler, neste domínio, Mishima ou a Visão do Vazio, A Benefício de Inventário e O Tempo, Esse Grande Escultor.
Muito azar teve a autora nos tradutores que lhe
calharam em sorte para verter (ou antes: subverter) a vasta obra para português.
Com a excepção de Rafael Gomes Filipe, os tradutores lusos — de Maria Lamas a
António Ramos Rosa — nunca conseguiram transmitir o brilhantismo, o estilo, o
fulgor da sua escrita.
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