OLIVEIRA

Manuel de Oliveira, que celebra hoje 105 aninhos, é um dos equívocos da crítica nacional. O João Marchante, que sabe do ofício, inscreve o velho cineasta "na genealogia espiritual e identitária que tem as suas profundas raízes em Luiz Vaz de Camões, o seu sólido tronco no Padre António Vieira e os seus criativos ramos em Fernando Pessoa". O certo é que, por décadas a fio, ninguém ligou peva a Oliveira. Quando estreou Amor de Perdição, em 1979, tinha o mestre dobrado já o cabo dos setenta, os críticos portugueses, supondo que fosse o seu último filme, quiseram lavrar-lhe um elogio quase póstumo. Correu-lhes mal o plano. O homem estava aí praticamente a começar a carreira. Depois de Amor de Perdição, realizou uma trintada de filmes bem contados. E por cada um deles os críticos foram obrigados a repetir os elogios anteriores. Por cada fita, tiveram que engolir mais um sapo, comida forçada de periodistas. Depois habituaram-se.
Enquanto Oliveira ia trazendo prémios de Cannes e Veneza, enriquecia-se o anedotário luso com a suposta monotonia e lentidão dos seus filmes. Isto lembra-me sempre aquele aforismo de Ramón Gómez de la Serna: como dava beijos lentos, duravam-lhe mais os amores. Assim também o velho cineasta: como realiza fitas lentas, dura-lhe mais a carreira.
Agora aqui entre nós, caro Manuel, vamos ao que interessa: antes do próximo, qual é o filme que se segue?

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