EMPLASTROS

Num concelho do Minho, põem-me de orador sobre urbanismo. Noto as filas dianteiras colonizadas pelo senhor presidente da Câmara, respectivos assessores e assistentes, os vereadores, os presidentes das juntas e outras figuras do poder local. É vício português esta omnipresença dos autarcas na vida da chamada sociedade civil. As cidades organizam-se em torno do senhor presidente da Câmara.
No jornal da terra, o homem mostra a fuça todas as semanas. O pavilhão ostenta a inevitável placa a informar que "o complexo desportivo foi inaugurado por S. Exa." Na procissão, logo atrás do pálio e do padre, lá vai todos os anos o senhor presidente da Câmara, acolitado por vezes da vereação em peso. Não há aniversário de associação recreativa ou de clube desportivo que não conte com a presença desinteressada do senhor presidente da Câmara, para dizer umas poucas de palavras sobre a instituição.
O senhor presidente da Câmara encontra-se por todo o lado. A esta forma de infernizar a vida dos munícipes chama-se, no jargão eleitoral, "política de proximidade". Se na vossa terra algum candidato prometer uma "política de proximidade", fujam do gajo a passo estugado. Se o elegerem, nunca mais se livram dele. O autarca da "política de proximidade" assiste às conferências, cumprimenta nos passeios, discursa nas associações, conversa nas esquinas, inaugura rotundas, visita as escolas, passeia com os velhinhos, concede entrevistas, vai à bola — e nas horas vagas, para se distrair de cuidados, gere a autarquia. Temo que um dia comece a entrar pelas casas adentro para dar a beijar a Cruz no Domingo de Páscoa.
Estes autarcas arremedam nos seus concelhos aquele maluco do Porto que aparece sempre por trás dos entrevistados a fazer caretas na televisão. Emplastros, é o termo.

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