Lisboa merece, sem favor, o título de
capital mais porca da Europa. A Torre Eiffel está para Paris como para Lisboa o
lixo a pontapé nas ruas e os grafitos nas paredes. A fama vem de longe. Contam
os olissipógrafos que era Portugal senhor do mundo e Lisboa recortava-se um dédalo de ruas estreitas e fedorentas, com os dejectos
lançados das janelas, os cavalos a patinhar na lama imunda, picados de
mosquitos e polvilhados de moscas — e as escravas negras em largada pela Rua do
Conde abaixo, levando na cabeça os baldes de porcaria que despejavam no rio. Mais
tarde, já no século XVIII, o Chiado só se fez Chiado depois que Pina Manique
encanou as caleiras dos dejectos públicos que deslizavam a céu aberto do Alecrim
para as praias da Ribeira.
Mantém-se, nos nossos dias, o fétido
cenário, que atrai e diverte a turistada europeia. É mais barato voar para
Lisboa do que para Nova Deli. E a comida melhorzinha, graças a Deus — mais saborosa e menos
picante.
A greve transformou a cidade numa
lixeira nauseabunda, ante a inércia da autarquia. Nestas condições, normal seria
que a jornalice espaventasse o escândalo, matéria de higiene urbana e saúde
pública. Dorme, porém, descansado o presidente da Câmara. O homenzinho ajunta
ser socialista a ser monhé, duas qualidades fundamentais que lhe garantem a
imunidade jornalenga.
O nosso porquinho-da-Índia não denota,
na verdade, o mínimo melindre. É preciso relativizar estas coisas. Ele sabe que,
no que toca a limpeza, Bombaim ainda é pior. Embalde pedem, pois, os munícipes
responsabilidades. A imprensa não quer enfarruscar as ambições políticas do
cavalheiro. Lisboa já lhe fica curta nas
mangas e inodora nas narinas. Tarde ou cedo, há-de perfumar de lixo o país inteiro.
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