PRAÇA DA REVOLUÇÃO


Os turcos revoltaram-se na Praça Taksim, em Istambul. Os egípcios na Praça Tahrir, no Cairo. E chegou agora a vez dos ucranianos, que fazem a revolução na Praça da Independência, em Kiev.
As sublevações modernas fazem-se nas praças. A primeira medida de qualquer regime que aspire sobreviver é acabar com as praças, rotundas e avenidas — a cidade transformada num dédalo de ruas estreitas e abafadiças. Sem praças, ninguém consegue fazer hoje uma revolução. É preciso espaço para que os oponentes se vejam, se insultem, bebam um copo e, de vez em quando, para combater o frio, arremessem o seu cocktail molotov.
Vai-se hoje para a revolução como dantes se ia à discoteca: para ver e ser visto. As praças são locais in. A multidão alinhada e a cantar, com bandeiras e cartazes, semelha a espaços o Rock in Rio, com palco e aparelhagem de som. Em dias de revolta, aparecem as cadeias internacionais de TV. As pessoas gostam daquela ideia chique de "fazer parte da História" e, por isso, perseguem nestes dias dois objectivos fundamentais: primeiro, tirar uma selfie para o Facebook, com as chamas em fundo, e depois, se for possível, mudar o regime — nem que seja para que tudo fique na mesma, como naquela máxima consagrada d
o Príncipe de Salina, personagem de Lampedusa.   
Nós, se quisermos pôr Portugal no mapa, não vamos lá com surfistas e canhões da Nazaré. Precisamos de fazer também a nossa revolução. Talvez no Terreiro do Paço. Se não pudermos desunir os manifestantes em pró-russos e pró-ocidentais, dividimo-los em solteiros e casados, como nos jogos de futebol amador. O que importa é que a CNN cubra o espectáculo.

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